Agualuz
Nascida em Niterói, estado do Rio de Janeiro, onde reside, Cecília Rogers já tem uma caminhada consistente na poesia, onde se destaca pela profundidade dos temas que a inspiram, pela sensibilidade do seu tom poético e pelo capricho das formas que usa para embalar cada projeto.
Em Agualuz, seu primeiro trabalho em prosa, não foi diferente. Cecília brilhou no enredo, na escolha dos personagens e no tom poético da sua prosa visceral, dramática e envolvente.
Agualuz conta a história de Luzia, a irmã do meio, sendo mais três irmãs e um irmão. Logo no início uma tragédia familiar vai ressignificar todo o seu estar no mundo e as suas relações com as pessoas.
Os dramas da personagem nos trazem temas bastante densos, como relacionamento abusivo, machismo, violência doméstica, violência psicológica, abuso sexual, perdas, recomeços.
Enquanto os acontecimentos vão se sobrepondo, Luzia se ampara no desabafar e receber o silêncio compreensivo das amigas Laura, Maria e Joana. Estas não podem se expressar, no entanto preenchem os vazios da alma de Luzia nas noites insones e encharcadas de lágrimas.
Fico com a impressão de que a obra de Cecília Rogers traz em si o esboço de algo maior. Luzia passa por cada uma das situações em sua vida como uma queda d’água. Ligeira, como as corredeiras, ela não se demora. No lugar de expectadores, perdemos a noção de início e fim. Fiquei emocionalmente tocado, louco para chegar ao final da história, enquanto o ritmo me fez querer que demorasse mais.
Penso nas Luzias, nas Tonhas, que se enxergam prisioneiras de uma existência com lampejos de vida e muitas trevas. Penso nas tantas mães resignadas que erguem cabeça e espírito todos os dias, sem esmorecer, para cumprirem a sua missão na vida. Para fazerem, de alguma forma, valer a pena o sacrifício de suportarem o peso de existir.
“Lavo minha culpa na água. Tiro a roupa, mergulho nua. Sou a correnteza que segue pelo rio”. (pag. 68)
Ler Agualuz é mergulhar nas entranhas da alma feminina, é sentir a dor misturada nos versos que se mostram em meio à prosa seca da existência. Ler Agualuz é não ser o mesmo depois de.
Título da Obra: Agualuz
Autor: Cecília Rogers
Editora Mondru, 2023
ISBN: 978-65-84634-40-4
Nº de páginas: 80
Foto do livro para a resenha: Jefferson Lima