Impressões de um Pai (II)
Ser pai
de uma querida adolescente em 2023:
é ter insegurança e muitos temores quanto ao futuro;
é ver a vida definindo caminhos sinuosos, bem à nossa frente;
é dar muita risada das respostas recheadas das mais absurdas certezas;
é ainda ter disposição para fazer bagunça e se permitir ser um pouco criança;
é conversar sobre limites e concessões;
é explicar os “poréns” e a razão dos vários “nãos”;
é orientar sobre a realidade paralela do mundo virtual;
é falar sobre o prazer de viver momentos offline;
é se ver impossibilitado de interferir em tudo o tempo todo;
é orientar nas questões escolares, sem dar todas as respostas;
é tentar, ainda que em vão, aliviar a ansiedade na semana de avaliações;
é ouvir as músicas de uma geração completamente diferente da nossa;
é assistir a séries e filmes, aproveitando estes para discutir temas diversos;
é incentivar os bons hábitos, como a leitura, o esporte e as artes;
é saber das festas e buscá-la – ou ficar acordado até que ela volte;
é sair pra comer bobagens, sem neuras com os bons hábitos o tempo todo;
é orientar sobre o perigo dos vícios, sejam eles quais forem;
é compartilhar valores, crenças e compreensão sobre um mundo plural;
é aconselhar sobre a autovalorização nos relacionamentos;
é estar disponível como ombro, ponto de confiança e compreensão;
é acolher nas horas ruins – adolescentes são cheios de horas ruins;
é aprender muito sobre o estradar da personalidade humana;
é influenciar pelo exemplo, sem a pretensão de ser perfeito;
é compreender as muitas indecisões sobre o futuro;
é jogar uma luz no caminho, sabendo que a ela caberão as escolhas;
é dizer que nem sempre será fácil, háverá obstáculos;
é celebrar as vitórias com uma boa farra;
é aceitar e aprender com os fracassos;
é fazer acreditar que é possível dar a volta por cima;
é nunca deixar de abraçar, pegar no colo e beijar;
é perder algumas noites de sono;
é ser constantemente surpreendido
e ter um calafrio todos os dias.
Imagem: Arquivo pessoal