Profano Jazz
O dia ainda não nasceu...
Pelo som ambiente, John Coltrane
nos desperta ao som de
Softly as in a Morning Sunrise.
Acordamos em transe para o amor...
Percussão, contrabaixo e piano, seguem
o ritmo do seu corpo, ou serão suas curvas
sendo embaladas pelas notas,
acordes, acidentes e escalas?
E daí? Vamos dançar...
Mãos, bocas e poros se exploram,
ansiosos, trêmulos, raivosos,
incertos como os compassos do jazz
que embalam e aquecem a madrugada
de nossa lua cheia ou minguante, sei lá...
Meus pulmões ávidos pelo seu
cheiro de fêmea, suas carnes descompassadas
como a harmonia desse sax rasgado,
envolvem-me com a ânsia de serem
fatiadas pela lâmina inflamada do desejo.
Nossos suores escorrem como
gorduras que caem e provocam estalos
de festa no carvão em brasa, confissões
indizíveis saltam dos seus lábios, seu corpo
derrete na profanação mais sagrada que pode haver.
Fogo que queima
em perdição, em loucura... Que redime nossos
corpos na sacralização desse altar,
onde oferecemos em sacrifício
nossa sede, nossa fome, nossa libido.
Coltrane rasga com seu fôlego
esse saxofone sensual, indecente e profano...
Nos fundimos numa voluptuosa entrega
de corpos derretidos que escorrem
tal metal na chama da purificação.
Exalando o incenso de um sacrifício carnal,
resta-nos um sorriso bobo, pervertido,
arfante, desejoso de outra dança.
Um beijo mordido e molhado faz trepidar
brasas ainda incandescentes.
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