Jefferson Lima em Prosa & Verso
"perceberás a maciez por baixo desta pedra... para uns tosca, para outros, preciosa "
Textos

Mito da Obscuridade

 

lá dentro da arca,

como um bicho na prisão,

acreditava estar a salvo

do dilúvio e perdição

 

desdenhava e zombava dos

que se arriscavam janela afora,

que vez ou outra passavam

mostrando os sinais de vida lá fora

 

e enquanto o calor aumentava,

o ar cada vez mais poluído,

a pressão do ambiente me sufocando,

palavras vazias não faziam mais sentido

 

alguém voou

não mais voltou

voei também

 

não havia dilúvio, nem uma chuva sequer

a arca mofada apodrecia,

flores, frutas e sombras abundavam,

toda a diversidade pra mim se exibia

 

uma pequena lagoa brilhava convidativa

senti a brisa das águas purificadoras,

desconfiado e atraído, cheguei perto

a tempo de ver o quanto era tentadora

 

percebi que tais águas encharcavam as asas e

que dentro da lagoinha já não havia seres alados,

seu pântano era habitado por apáticos girinos

que sem metamorfoses, morriam parados

 

arremeti a tempo

seguindo na lufada

de uma corrente ascendente

 

explorando o espaço percebi que

caiadas arcas apodrecidas

iludem seres aprisionados

em lagoas secas e sem vida

 

alguns saem pelas janelas,

raras metamorfoses acontecem,

asas rebeldes enfeitam o céu,

pisadas livres os campos enverdecem

 

a beleza das arcas

remete a frias lápides,

as lagoas com águas de Mara

enganam aos que buscam uma égide

 

enfim...

arcas cheias de fósseis...

lagoinhas habitadas por gomosos anuros...

 

 

Imagem: arquivo pessoal

 

Jefferson Lima
Enviado por Jefferson Lima em 08/08/2022
Alterado em 11/12/2022
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