Mito da Obscuridade
lá dentro da arca,
como um bicho na prisão,
acreditava estar a salvo
do dilúvio e perdição
desdenhava e zombava dos
que se arriscavam janela afora,
que vez ou outra passavam
mostrando os sinais de vida lá fora
e enquanto o calor aumentava,
o ar cada vez mais poluído,
a pressão do ambiente me sufocando,
palavras vazias não faziam mais sentido
alguém voou
não mais voltou
voei também
não havia dilúvio, nem uma chuva sequer
a arca mofada apodrecia,
flores, frutas e sombras abundavam,
toda a diversidade pra mim se exibia
uma pequena lagoa brilhava convidativa
senti a brisa das águas purificadoras,
desconfiado e atraído, cheguei perto
a tempo de ver o quanto era tentadora
percebi que tais águas encharcavam as asas e
que dentro da lagoinha já não havia seres alados,
seu pântano era habitado por apáticos girinos
que sem metamorfoses, morriam parados
arremeti a tempo
seguindo na lufada
de uma corrente ascendente
explorando o espaço percebi que
caiadas arcas apodrecidas
iludem seres aprisionados
em lagoas secas e sem vida
alguns saem pelas janelas,
raras metamorfoses acontecem,
asas rebeldes enfeitam o céu,
pisadas livres os campos enverdecem
a beleza das arcas
remete a frias lápides,
as lagoas com águas de Mara
enganam aos que buscam uma égide
enfim...
arcas cheias de fósseis...
lagoinhas habitadas por gomosos anuros...
Imagem: arquivo pessoal