Não me enquadrei.
Onde se vê atrevimento e rebeldia,
eu enxergo incoerência.
Não aceitei
o que trouxeram já mastigado
para que eu não tivesse o trabalho.
Não acreditei
nas ideias enlatadas, nos conceitos formados
através de outras vivências.
Não comunguei
com a fé imposta ante ameaça de um inferno
futuro, se já vivo nesse inferno aqui.
Não compactuei
com as convicções políticas que defendem nichos
e se lixam para a escória que vive à margem.
Não convidei
para a minha festa, os podres poderosos
que se empanturram de escárnio.
E o mundo me dizia:
─ Você é ovelha negra! Toma jeito!
Assuma ou suma!
Eu neguei
usar a mordaça em prol da liberdade
de viver com a minha consciência.
Eu fiquei
com pena dos que não enxergam um palmo
além do seu egoísmo medíocre.
Eu formei
mil opiniões a respeito de tudo,
que nunca me serviram pra nada.
Eu entrei
de cabeça nas minhas crenças pessoais,
não sabendo o caminho, nem aonde iria chegar.
Eu chorei
e cada lágrima regou o rego árido do meu ser
para reviver a Fênix que hoje vês.
Eu arregacei
as mangas para provar ao mundo, aquele meu mundinho,
que é possível vencer, apesar de.
Deixo qualquer cinza cor-de-rosa-choque.
Se é pra fazer barulho,
eu mesma faço.
* Escrito em homenagem a Rita Lee, para o sarau do coletivo O Ato de Escrever
(Imagem: migalhas.com.br)