E vou passando pelos anos,
apreciando paisagens, sentindo novos aromas,
não sabendo a extensão da minha estrada,
vivendo novas emoções, não indiferente, e
quase certo de que o passado pode ser maior que o futuro,
mas cheio de desejos para que seja ainda melhor o que virá.
E noto a vida se alterando
num compasso em desalinho com as estações,
num tom desafinado com a melodia dos tempos
e já não é possível dançar sem desencontros,
porque, nessa toada, perdemos a harmonia
e, enrijecidos, será sorte encontrar um par para seguirmos juntos.
E percebo amizades e amores sendo relativizados,
antigas convicções sendo pulverizadas,
novos costumes chocando os mais velhos,
fantasmas antigos assombrando nas esquinas,
enquanto não conquistamos, com as modernidades,
o tempo livre com o qual sempre sonhamos.
E começo a desacreditar daqueles que prometem
em nome de Deus, em nome da nação, em nome qualquer;
é tudo de um vazio tão denso que se pode sentir o peso,
não nas consciências, mas nos lombos dos frágeis de fé,
que ficam encantados e esperançados,
enquanto seguem sugados, explorados e esfarrapados.
E penso como persistir no curso da existência,
mantendo a sanidade e alguma motivação,
senão pelo mergulho espiritual que a arte propicia,
na música, na poesia, nas cores da minha paleta,
que me trazem provocações e me fazem transcender
a ponto de querer conhecer o que virá após a próxima curva.