1. Fale um pouco sobre sua trajetória de vida antes de se dedicar à literatura.
Desde criança fui um leitor ávido por boas estórias e por isto me tornei um dos mais assíduos frequentadores da biblioteca da escola. Na adolescência frequentava três bibliotecas ao mesmo tempo: a da escola, a do meu bairro e a biblioteca municipal da minha cidade, João Monlevade. Me enveredei pelos laboratórios químicos, farmacêuticos e depois pelo mundo industrial, mas a paixão pela leitura sempre me acompanhou.
2. Quando descobriu sua “vocação” para a literatura?
Apesar de ler muito e conseguir elaborar boas redações na escola, não passava pela minha cabeça que um dia eu pudesse vir a produzir literatura. Foi já por volta dos dezessete anos que pensei num aforismo e anotei por anotar. Dias depois comecei a trabalhar na ideia e dali nasceu o primeiro poema. Tomei gosto pela ideia de colocar pensamentos e sentimentos no papel e não parei mais.
3. Fale um pouco sobre seus livros.
Entre 2009 e 2017 eu publiquei em várias antologias poéticas. Foi uma forma de experimentar e mostrar os meus textos, que até então eu guardava só para mim. Foi uma boa experiência para ter feedbacks e para conhecer um pouco do mundo editorial. Em 2017 eu lancei então o meu primeiro livro solo, “Se For Poesia...”, que reúne boa parte do que escrevi ao longo de 23 anos e que traz desde versos românticos a temas existenciais. O pano de fundo que permeia todo o livro é alguma inquietação em relação à passagem do tempo, a saudade e a brevidade da existência, sem deixar de lado a mineiridade e as manifestações de fé e esperança.
Atualmente estou trabalhando no próximo livro de poemas e num livro de crônicas, que devem ser publicados entre o final deste ano e o primeiro semestre do próximo.
4. Existe algum poema que seja o preferido? Por que?
“Minhas Questões” resume bem o sentimento do livro e que traz um viés de inquietação e questionamento. Gosto particularmente da segunda metade deste poema.
Onde você está? O que fizemos de nós?
Os rumos da vida justificam as ausências?
Por que as despedidas?
Num abraço apertado somos sinceros?
Guardamos o silêncio necessário diante da dor?
Onde estão os dias?
Em qual temporal chorei?
Por que há despedidas?
Há silêncio ante a dor?
Para as incertezas há respostas?
5. Você baseia seus textos em fatos da vida real, ou são mera ficção?
Há um misto de vivências, percepções e pensamentos. Alguns são extraídos da realidade vivida ou das observações do que acontece ao meu redor. Outros surgem da necessidade de me expressar ou até mesmo me posicionar sobre algum tema e ainda tem os versos que provêm das fantasias e desejos que nos levam a divagar sem que necessariamente exista uma razão ou sentido específico.
6. Queria saber sobre sua experiência com editoras, caso publique por elas, ou então se realiza produção independente. Quais as dificuldades encontradas?
Meu primeiro contato com uma editora foi através das antologias das quais participei (mais de dez antes do lançamento do Se For Poesia...). Nem todas as experiências foram felizes. Alguns trabalhos tiveram resultados decepcionantes. E foi assim que conheci a Editora Delicatta, de São Paulo. Uma editora que foi idealizada depois de alguns projetos publicados através de outras editoras e que nasceu tratando com muito cuidado as suas publicações. Gostei muito do resultado.
A maior dificuldade foi em relação à distribuição, pois sendo uma editora de outro estado e que não tem uma rede de distribuição a nível nacional, cabe a nós, escritores, sair para o mercado de forma independente, o que é bastante complicado para quem está começando.
7. Nas entrevistas e bate-papos que acompanhamos pela internet, verificamos que existe uma preocupação muito grande com a revisão. Há livros sendo publicados sem revisão de espécie alguma, nem a técnica (própria da editora) nem a ortográfica/gramatical. O que você pode nos dizer a respeito? No seu caso particular, você contrata um(a) revisor(a)? Ou a editora se encarrega disso?
Eu contratei uma revisora quando decidi publicar. Acho importante um outro olhar sobre o texto que não o do autor. A gente se acostuma com a escrita e alguns detalhes podem passar desapercebidos. Mas também é indispensável que haja um bom diálogo entre o escritor e o revisor, com liberdade suficiente para uma troca sincera de opiniões com o objetivo de extrair do texto a melhor qualidade, sem, no entanto, descaracterizá-lo.
8. Outro ponto chave para os novos autores é a divulgação de suas obras. Pode nos dizer de sua experiência a respeito?
Hoje temos a internet como grande aliada. A divulgação nas redes sociais é fundamental para que a nossa obra chegue além do nosso alcance presencial. Também é importante, sendo possível, participar de feiras, saraus, rodas de conversa e outros eventos onde seja possível mostrar um pouco da nossa arte. Iniciativas como a Liga de Autores Mineiros também são bem-vindas, pois são capazes de reunir escritores com um mesmo objetivo e, uma vez reunidos, têm a oportunidade de compartilhar experiências e agruparem-se para promover ou participar de eventos diversos. Não é fácil abrir caminhos, mas qualquer passo pode nos levar um pouco adiante.
9. Algo que muito me espanta são os comentários depreciativos sobre a literatura brasileira contemporânea. É comum ouvir-se algo do tipo “não gosto, não leio autores nacionais”. Em seu entendimento o que explicaria tal tipo de comentário?
O sistema educacional, desde o início da formação da criança, trata a leitura como uma “obrigação” para obtenção de boa nota numa prova (ou ficha de livro, como era chamada até um tempo atrás). A partir da adolescência, enquanto a escola está empurrando, a cada clássico uma avaliação, este mesmo adolescente está vendo que a literatura estrangeira, muitas vezes está relacionada com o filme ou a série que ele assiste nos cinemas ou nas plataformas digitais. Daí ele tem dois caminhos a seguir: ou não vai ler nada, porque leitura é coisa chata, ou só vai ler bestsellers internacionais, porque a literatura brasileira é chata.
Sou da opinião que as escolas precisam introduzir a literatura clássica, mas permeada também pela literatura brasileira contemporânea. E que no lugar das avaliações fossem promovidas rodas de conversa e debates sobre o tema proposto. Conversas interessantes, descontraídas, mas que buscassem discorrer o assunto de forma madura e provocativa, levando ao prazer do ler e do pensar.
10. A partir de sua experiência pessoal, o que poderia dizer para aqueles e aquelas que pretendem publicar livros?
Escrevam por prazer. Escrevam por terem algo a dizer. Escrevam porque algo os inquieta e é preciso botar isso pra fora. Mas não escrevam por pretensão ou expectativa de fama ou grana. Se vier a fama, a grana ou os dois juntos, que seja consequência do talento aliado à sorte. A palavra que carrega em si a verdade de quem a escreve é joia de maior valor. Fujam das aparências e da superficialidade. Sua escrita é o seu legado.
Entretrevista publicada originalmente em 25 de março de 2020, em
http://meuslivrosdeliteraturaehistoria.blogspot.com/2020/03/entrevista-com-jefferson-lima.html#comment-form