E na Bienal que começou com uma homenagem a Maurício de Souza e teve como grandes homenageadas as escritoras Ruth Rocha e Ana Maria Machado, o destaque não ficou por conta da qualidade da obra ali exposta, nem pelos muitos expositores e visitantes, nem pelos vários escritores presentes e muito menos pelas escolas que levaram seus alunos ali para que estes tivessem contato com os livros e com os guerreiros que resistem na arte literária.
O destaque ficou por conta de um prefeito imbecil que viu a oportunidade de unir o seu preconceito pessoal, os seus dogmas religiosos, a sua falta de interesse pelo evento e a necessidade de atrair os holofotes para si de alguma forma. Na tentativa de disfarçar a sua insignificância, fez por realçar a sua estupidez que, em contrapartida, gerou todos os protestos já divulgados e, com certeza, outras muitas manifestações anônimas e de pouco significado por aí, como este post.
E nesse mundo onde as pessoas se pegam, se beijam, se chupam e se comem (está lá, nos Cantares de Salomão, mais explícito em palavras do que qualquer ilustração de gibi), ainda temos que conviver com estas bobagens em nome de muita hipocrisia.
Prefiro lembrar desta Bienal, na qual não estive presente, pela alegria de lá ter os meus amigos Bruno Black e Débora Moreno, com o encanto de suas poesias e a incrível história de suas vidas. Também feliz porque o Mauro Brandão estava lá, representando a nossa Minas Gerais, levando para a Bienal a poesia e as histórias da singela Caeté. Estes três, cada qual em sua comunidade, fazem a diferença entre os seus, com programas de incentivo à leitura, saraus, contação de histórias, concursos literários, distribuição de livros, visitas em escolas.
Uma pena que estamos vivendo tempos de boicotes, censuras e discussões que não evoluem para um mundo melhor.
Espero que um dia as pessoas tenham a mesma serenidade daqueles que permitiram que os Cantares de Salomão fizessem parte do Livro Sagrado. E que respeitem as muitas manifestações de uma sociedade complexa e plural.
Afinal, em qualquer cultura e geração, o amor é bonito, se manifesta na carne, usa os cinco sentidos e tem lá suas multiplicidades.
(Imagem: montagem a partir de imagens públicas da internet)