Em cima do muro não dá!
O momento exige posição,
coragem para expor opiniões,
ousadia para sair da zona de conforto,
conhecimento das causas, dos riscos e das consequências.
Em cima do muro? Desce daí!
Não há mais espaço para omissão,
enquanto a justiça é seletiva,
os preconceitos definem atitudes
e as propinas determinam os destinos.
Em cima do muro não!
Hoje, 80 balas perfuraram o outro carro.
Amanhã, quantas atingirão o meu?
Toda manhã um novo dia me é servido.
Sabe lá Deus o teor do meu cálice!
Em cima do muro não dá pra ficar!
A educação precisa ser prioridade,
médicos para todos em qualquer lugar,
lazer, arte e cultura acessível a todas as camadas,
velhice digna – o mínimo a desejar.
Em cima do muro? Jamais!
Pra longe de mim este cale-se!
Os buracos atravessam as rodovias,
as chuvas engolem as avenidas,
as larvas proliferam nas poças d’água.
Em cima do muro... Como assim?
O emprego já anda escasso,
sobreviver, um milagre.
As pessoas estão se armando
de ódio, temor e bala.
Em cima do muro não dá!
A comida que já custa um bocado,
desde o campo já é envenenada
com agrotóxicos liberados na calada,
em anuência bem paga e justificada.
Em cima do muro, não!
Embaixo deste muro prosperam
fake news, fake leis, fake deuses.
De real, talvez a esperança.
Em coma, mas viva.
Em cima do muro?
A vida está sendo engolida
pelo mar de lama da ganância,
que tritura e soterra sonhos
na arrogância de quem pensa castas.
Em cima do muro? Tá doido!
Que haja reação, conscientização!
Que todo preconceito seja merda!
Que, apesar do medo que impera,
a inércia dê lugar ao movimento.