Não costumo gostar do mês de dezembro. E começo explicando o que me deixa contrariado nesta época do ano.
É um período de posturas inexplicáveis e inúteis, que tornam a vida supérflua e superficial.
As pessoas se transformam, embaladas por causa de um tal ‘espírito do natal’, que não sei de onde saiu. Em nome deste ‘espírito’ as pessoas forçam situações, simulam sentimentos e alteram suas personalidades. Neste mês todos ficam solidários, sensíveis, querem se reunir pra festejar e trocar presentes. O mês escorre por entre os dedos enquanto nos ocupamos em comprar presentes, preparar uma ceia para a virada da noite 24 para o dia 25, onde todos se abraçam e se declaram.
E daí?
Pra que gastar tanto? Pra que tanto preparo? Pra que esperar dezembro chegar?
Por que as famílias não se reúnem mais vezes durante o ano com a mesma alegria?
Por que não há ceia nas comemorações dos tantos aniversários dos membros da família?
Por que não há outros motivos para brincar de amigo secreto durante o ano?
Por que o nascimento de Jesus é tão pouco lembrado no dia em que deveria ser a razão para tanta comemoração?
Ah, as expectativas de dezembro...
E nem todos os dezembros são festivos.
Alguns se descobrem doente, outros perdem entes queridos, outros se envolvem em acidentes... e as pessoas então pensam que o “fim do ano acabou”, foi um desastre, época maldita!
Ora, mas por qual razão acabou?
Se a razão da alegria de fim de ano se sustentar apenas nas reuniões familiares, na troca de presentes, nas comidas ou nas bebidas, melhor será não existir um natal nos calendários.
O que justifica toda a comemoração é a convicção de que existe um motivo para celebrar que vai além de nós e do nosso poder de compra, além do alcance e da importância de nossas relações sociais, além dos acontecimentos que podem trazer tristeza no mês de dezembro ou em qualquer outro mês do ano.
Se o dezembro vier e eu estiver feliz com os meus, trocando presentes e fazendo festa, que tudo seja para o louvor de um Deus que nasceu menino e se fez humano, que também gostava de festas, de comer e beber à vontade e que também tinha amigos.
E se o dezembro vier e eu não tiver com quem me reunir, se não houver uma mesa de banquete e nem presentes a ofertar, se por algum motivo eu estiver deitado numa cama de hospital ou ainda que eu esteja a despedir de alguém que amo, que eu consiga força para, no coração, elevar uma prece a este Deus, que nasceu menino e como homem experimentou as mesmas dores, a mesma ansiedade, a mesma tristeza e o abandono na hora da morte.
Que esta convicção me acompanhe em todos os meses do ano. Pois há dias de festa e dias de luto; dias alegres e dias tristes; cada qual com sua beleza ou não, alguns em cores quentes e brilhantes, outros em tons gris e nublados.
E Ele viveu na pele todos esses dias, todas as nuances de uma existência humana e por isso mesmo falou: “Não andeis ansiosos por coisa alguma, antes lancem sobre Deus a vossa ansiedade, pois Ele tem cuidado de vós”.
Pois nem todos os dias são iguais, nem todos os dezembros são de festa, mas tudo que existe se faz realidade por causa d’Ele. Os nossos dias estão em Suas mãos.
Ele é imutável.
Mas nós... estamos sempre de mudança, em busca de um novo olhar para a vida.
(Imagem: Ovo Cósmico - Salvador Dalí)